terça-feira, abril 06, 2004

Moça Bonita

Por que és tão admirada pôr muitos homens, prefiro querer-te de longe. Não perceberás nunca o meu sorriso discreto, pedido na multidão. Mas eu estarei lá, naquela esquina, encostado numa parede, olhando-te, enquanto passas com teu séquito barulhento e deslumbrado. Teus gestos, tão estudados, tudo em perfeita sincronia, cabelos ao vento milimetricamente despenteados.
Todo este espetáculo me faz pensar, nas horas em que sozinha, ficas olhando a parede branca do teu quarto e vem aquele cheiro bom de café da cozinha. Lembras da tua infância, tão doce, pura e ensolarada. Toca o telefone, é um súdito clamando pela tua insubstituível presença. Aí, neste exato instante, pesa pra ti ser tão maravilhosa e tu só consegues desejar não ter nascido tão linda, só prá ser natural de vez em quando. Usar tuas camisas velhas, falar dos teus avós e do pé de carambola que existia na casa deles. Tu pareces ainda mais linda, quando estás assim melancólica, mas ainda não inventaram um espelho para ver a alma. Essa tua, que eu vejo, muito me encanta. Pena que a tua corte pouco saiba sobre ela.
Eu prefiro te amar daqui do outro lado da rua e rir destes segredos ocultos na tua solidão.


S.L. 20/09/94

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