terça-feira, dezembro 14, 2010

Poema Taoista

se alguém te abala,
na opressão que fala,
silencia.
traz sempre vazia
a tigela.
empunha o bastão sem medo.
e tudo mais será segredo.

nilo neto

quinta-feira, dezembro 09, 2010


É sempre esse caminho arenoso e só.
É sempre esse deserto cercado de eus.
Sombras de desejos não realizados.
Dores tão secretas e agora à flor da pele.

Mas ela me estica a mão e me fala
de uma caverna encantada
aonde somos felizes sem saber.
Aonde reina o silência feito de paz.

E assim mais um dia fica possível.
E assim consigo dormir.
E não me dói tanto acordar.
Senão para sonhar com esse dia.

Ela não sabe o destino.
Mas me anima a caminhar.

Nilo Neto
no amanhecer de um dia dezembrino 2010

terça-feira, novembro 30, 2010

dança no meu coração uma mulher bailarina,
esquecida de chorar,
seus pés vão desenhando no chão estrelado,
a canção do amor maior

não existe canção,
não existe palco,
não existe luz
existe a sombra do desejo
de viver outra realidade,
longe das amarguras da rotina,
do apego

mas tudo não passa de um sonho
e ela se vai na dobra da luz da lua
e recai sobre nós a verdade fria da distância
adeus meu amor.

sexta-feira, novembro 12, 2010

NO MEIO DA PEDRA HAVIA UM CAMINHO

Ao mestre Lao Tsé, pelos silêncios per(feitos) de nada...


Quando a mais minúscula chama,
inflama a maior floresta,
toda calma que distrai a natureza,
transforma a figura mais ligada na trama.
Desconstrói a moleza da lama,
cria a toca secreta do caranguejo.
Deus branco encantado na areia,
desaparecido no mimetismo de pertencer
ao maior complexo ZEN destino,
dissolvido na neblina da montanha.
Despertar um outro,
o camaleão na frente do espelho.
Não mais o verde, azul, vermelho.
Somente a sombra da última dimensão.
Não mais o sim e o não,
tribo da redenção,
desgosto do pai e patrão.
Tudo que deveria ser e sua velha família,
desaprendida de seguir  a trilha,
a velha montanha desconhecida,
agora sim, descoberta e acesa,
tudo o que se faz sobre a mesa.
A mais secreta flor agora deposta e calada,
tem outra fachada, outra entrada, outra alma sagrada.
Esse é o destino do mestre em busca da imortalidade.
Sua alma já não comporta outra vaidade,
a não ser a de estar vivendo a vida do homem comum.
Ser mais um, mais uma e mais um.
Filhos, casa, imposto e lugar pra cair morto.
Fantástico desprendimento,
atento, seu pedido foi ouvido pelo pai,
vai em paz, segue o teu caminho, meu filho,
porque a tua sina é o meu carinho...
E assim está sobre o mundo sem ser visto
tudo o que ele havia previsto,
ainda menino, nas suas andanças paradoxais,
nas terras dos velhos cães e pardais,
do mestre lontra, do seu avô nadador,
da cidade perdida, atrás de outro contador de histórias.
E assim sua velha calma retornou e ele feliz,
distante da cansada e amada meretriz,
vai certo de que sua luz anda como sua sombra...
Toda onda agora, resumida ao tao,
ao símbolo escrito em seu coração,
ele agora é todo feito dessa velha canção,
que tantos ainda não conseguiram compreender.
Mas ele não precisa mais se defender,
simplesmente está atento, olhos abertos, mas sem desejar,
sem sonhar, sem querer outra folha aberta no seu livro,
feito de imagens, contando, cortando, implantando outras vaidades,
outras saudades, outras diversidades,
apenas crê que nada aqui tem fim.
Sabe que a morte é mais uma estranha ilusão,
como o tempo, a liberdade e a solidão.
Toda sua mente está clara e silenciosa.
Nada mais lhe apresenta essa custosa citação,
do velho senhor que morava na montanha,
que desceu e questionou a presença do pater familiae,
aquele que não interfere no processo,
o sem nome dos sem sucesso.
E nesse momento enfim,
cumpriu sua sina e fez outro fim.

terça-feira, novembro 09, 2010

Laguna

La meme chose
es la mesma cosa
que se entrelaça na lousa
dos que respiram em paz.

e nada mais
concentra o mar de riso
senão o dente conciso
a razão que vem como o orvalho
de manhã sobre a flor despercebida

assim quero o meu amor
sobre a tua vida, vivida,
nessa caminhada de jasmim...

a jornada cantada no grito primordial
não existe o bem, nem o mal
estamos finalmente despertos no desapego de viver
juntas almas, nada calmas,

ansiosos por construir a torre
final do castelo
yin azul, yang amarelo.

nilo neto
desterro
primavera de 2010

quarta-feira, outubro 20, 2010

Sobre a impossibilidade de amar demais

A partir de hoje,
habitará em teu coração,
meu amor silencioso,
obsequioso,
dadivoso e
coberto de paz.

Não espero dele
mais que um repicar
de sinos,
numa igreja perdida
de cidadezinha
do interior.

Justamente
às seis da tarde
eles me lembrarão,
que em algum lugar
também teu coração
bate por mim.

E se nossos destinos,
escritos no livro de ouro
dos grandes encontros,
não passarem de
uma miragem
nos desertos da vida,
saibas que naquela
noite de lua cheia e vinho
foste minha
e eu, somente teu.

Amor que não transbordou
da taça dos desejos,
mas preencheu
meu coração vadio
de alegria e acolhimento.

Agora volto a navegar,
porque esse é meu mistério:
não pertencer a nenhum
porto seguro.

Mesmo sabendo que
cada um deles
é semente.

Uma parte de mim
que um dia,
filho da fé de ser um contigo,
há de se metamorfosear
em sombra
para os buscadores
solitários
que amam
demais.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Se eu apreciasse o rito,
O grito, a vã necessidade,
A clara ausência da verdade,
Que derrama, na lama do vulcão.

Eu nela estava calado,
Um verso, reverso encantado
Essa boca maldita,
Na noite que grita,
Arrebentou a represa colorida,
Dessa vida e da outra, sentida.

E nesse nada eu mergulho feliz,
Por um triz, eterna meretriz
Dos meus versos ateus.

Que um dia serão teus.

Mas agora estão no mundo,
Esse meu amor vagabundo
Nada mais espera senão,
O amor sincero do teu coração.
eu quero voar
eu quero morrer
eu quero acordar do teu lado
agora

sopa de ossos,
moídos, moídos, moídos,
moídos em mim

vou fazer a banda tocar
debaixo da tua janela
e calar os gatos no cansaço
miados inúteis
do teu, do teu, do teu
do teu coração.

E nas minhas veias abertas
A dose perfeita do amor
Vai entrar nesses segundo
1, 2, 3 ...
adeus

quinta-feira, maio 13, 2010

a manta da cama me livra do frio.
 só não leva o vazio, que canta na chama
do teu calor, me aninhando no cio.

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Não me culpa se tu um dia sem querer te descobrires me amando.
Eu sou a sombra do pessegueiro torto que vive embaixo desse capim.
E não tem lua certa pra eu ficar bailando no devaneio.
Tem dias que esse concerto termina no meio.

Não briga comigo que às vezes eu rimo sem querer.
Que eu descalço essas velhas chinelas pra tentar te esquecer.
Tem dias que eu não sei o que me passa e seria melhor assim,
Sempre poder lembrar do que nunca aconteceu e por isso não tem fim.

Não ralha comigo se um dia me pegar rindo,
no meio da praça sem querer, te encontrar.
Esse vai ser o maior momento desse meu personagem.
Que vive fingindo ter te esquecido.

Esse palhaço bandido vai te parecer um velho conhecido.
Brinca com ele sem medo, deixa brotar uma dor sem aviso.
Nesse dia, meu amor, finalmente o desejo reprimido,
Vai voar pelas folhas, uma borboleta azul.

quarta-feira, abril 21, 2010

desejando,
sem sofrer,
um beijo.

uma pedra
no meio
do caminho
ou quem sabe
um ninho.

dessa boca
que nao fala,
ouvido
que nao vê,

a saudade
que eu sinto
de você

sexta-feira, março 26, 2010

como saber-te
sem ser teu nó,
sibilante sombra
no azul da noite nua.

como seguir-te
sem desejar ser pó,
última foto do álbum,
que continua.

então mulher pássaro,
trago-te o ninho só,
povoado de beijos
que se vão.

penúltima canção,
sóbrio já não mais,
despido das muletas,
ouso em ti voar.

sexta-feira, março 19, 2010

Esse calor tardio tem gosto de fruta no cio.
Tem dons e sons resignificados crus.

Os grilhões arrastados pelas ruas.
A malta de estropiados cantadores solitários.
Também tem seu pés ensopados pelo
Que não se pode reciclar dos sorrisos sociais.

O nosso amor vadio não tardará em ser vazio.
E pelas paredes desenhadas, pequenas palavras
Que mais parecem com teias de aranha abandonadas.

Cato o miasma da velha casa.
Já se fez de ensolarada, mas agora range,
Simulando segredos das almas
De gatos mortos no porão.

Então esfrega mais um pouco esse
Teu corpo quente, doce e mentiroso.
Tempestade de raios, prevista em alto mar.

A vida não avisa sobre as curvas perigosas.

quinta-feira, março 18, 2010

a síntese sóbria do ser sonhante,
escapuliu pela tangente num instante.
quando se sabia simples, sobrou,
na sombra póstuma da variante.

segunda-feira, março 15, 2010

sempre que eu arrumo
uns pingos pra botar
nos teus is,
acabo só
com umas
reticências...

sábado, fevereiro 27, 2010

domingo, fevereiro 21, 2010

E lá se foi ladeira abaixo,
mais um amor natimorto.
Sufocado pela terra tremendo,
sem encontrar seu porto.

Se ela soubesse
o calor do meu beijo,
quem sabe viesse
ver a sorte no realejo.

Mas não tem nada,
fica o dito pelo não dito.
Sem olhar pra trás,
estou fora desse conflito.


Despedidas nem houveram, 
foi cada um na sua
e eu bem quieto, 
voltei a namorar a lua.

sábado, janeiro 16, 2010

era como um laço secreto que pairava por sobre as mangueiras, perfumando os dias, comandando as sombras, possível descanso pelo caminho.
braços abertos, sorriso franco, ela se projetou pelo espaço afora.
eu poeta menor, supus-me soprando virtudes nessa breve construção.
haja porto seguro pro meu coração...