quarta-feira, maio 05, 2004

se eu me descuido,
nessa calçada cheia de limo,
nessa conversa assim mansinha,
nessa tua gargalhada que chacoalha o sino,
vou ficando assim meio mole,
fico derretido no sol,
fico facinho.

eu lambuzo a tua boca,
eu escorro em cada olhar,
eu nem sei bem o que acontece,
sei que é bom,
sei que não devia
te amar assim.

gostar do teu cheiro,
da tua feminha,
desse cabelo que parece uma crina,
desse olhar cansado do mundo,
dessas idéias que estão nas nossas cabeças,
dessa sintonia sem palavras,
que a gente fala sem parar,
mas não consegue tapar.

quero agora os lençóis frios da tua cama,
quero teu corpo lento sobre o meu,
quero um gole de vinho, sentado na calçada,
fim de tarde naquele passo fundo gelado.
quero ser teu.
mas bem lá dentro eu sei
que nunca mais.
porque esse tipo de amor não morre,
não desbota e precisa ter cuidado.
senão a gente escorrega.
e aí...

bom, aí já viu né,
vem aquela vontade de ficar junto,
vem o medo de ser atropelado pelo mundo,
vem a angústia e o tesão,
vem a sobrecarga
e a explosão.
e dor aumenta muito,
porque a vida longe
é sempre mais pesada e lenta.

mas é sempre bom
falar contigo no telefone.
Alô?

segunda-feira, maio 03, 2004

Dois pequenos segredos sujos,
Estavam jogando a velha dança,
Que um dia foi de guerra:
Capoeira de angola.

A peste,
Em seu cavalo com cascos de veludo,
Instala-se naquela casa,
Até que a dor
Acorda os que já morreram.

Na sala de estar
a família silenciosa,
Assiste às dores de outras,
Na grande tela colorida da TV.

Alguém troca o canal?

Nilo Neto

Desterro, 3 de maio de 2004