segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Deus me livre
de ter compostura,
de ser de família
e de errar na mistura.

Livrai-me, Senhor,
de ser solícito e polido,
de ser intolerante
e de viver enrustido.

Valha-me Nossa Senhora,
não quero uma vida regrada,
pagar imposto, ser decente,
ter sogra e empregada.

Pai, afasta de mim,
a fidelidade partidária,
o dízimo, o terço e o pecado,
ser uma pessoa gregária.

Cordeiro de Deus,
não sou mais criança.
Tirai-me do lugar de juiz,
deixa eu viver de esperança.

Se tudo na vida tem preço,
eu nasci sem trocado.
Ou acerto logo no milhar,
ou deixo o bicho de lado.

sábado, fevereiro 19, 2005

a poesia que me interessa,
não tem pressa
de se fundir no meu eu.
não se perdeu numa esquina,
por qualquer menina.
não está pra qualquer um
no bafo de um bebum.
vive quieta e aguarda o momento.
de virar acontecimento.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

o som de dezenas de sapos na barra da lagoa da minha infância.
o cheiro do café passado, avisando que o dia virou noite,
o gosto da tua língua lambendo minha boca, meus dentes e segredos.
Eu beijei,
lambi,
cheirei,
mordi,
chupei,
desejei
e amei

cada pedacinho
desse teu corpo.

Isso me faz
ter orgulho
e felicidade,
de ser quem
eu sou.

E faz
meu despertar
mais doce
cada manhã.

Porque haveria
de ser
de outra
maneira?

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Deixa eu ficar triste.
É carnaval, eu sei.
Mas é que ela foi embora.

Eu saí no bloco da saudade.
Eu sou do bloco do eu sozinho,
Na avenida.

Deixa eu chorar um pouco mais.
É que eu sinto falta das mãos dela.
Do jeito que ela dizia meu nome,
Na hora de desligar o telefone.

Nós dois somos de mundos
Tão diferentes.
Mas o amor, esse inclemente,
Deixou a ilusão da felicidade,
Jogar sua rede em mim.

Quando o telefone toca,
Ainda acho que é ela.
Não há mensagens novas.
Nem no celular,nem na Internet.

Ela me faz uma falta dos diabos.
E eu não aprendi a esquecer.
Estou preso pra sempre.