terça-feira, abril 06, 2004

Ei, humana,
Ouve esse grito insano
Esse grito surdo,
Absurdo,
Irreal e permanente.
Que cala e consente,
Com tudo o que existe.

Com o que persiste
E se deixa levar,
Onda na sombra do mar,
Vesgo, inseguro e secreto,
Leve como concreto,
Tudo de bom?

Aja nesse meu som,
Nesse resto de força,
Nessa velha canção,
Ouvida desde o começo,
Nesse meu esquecido tropeço,
De cavalo pastando.

Esse que está relinchando,
Quando você dorme tranqüila,
Esquece que já foi outra.
Do tempo que nunca passa,
Nesse continuum sem fim,
A flecha que já não caça
Outra peça de museu.

Esse que já fui eu,
Agora só, fica me mirando,
Quando não estou te olhando.

Ouve esse outro grito,
Ouve que te permito,
Estar somente parada.
Quieta, esperando a chuva,
Fim de tarde que nunca acaba.
Chega mais perto para saber.
O que não me cabe esconder,
Serei capaz de esquecer?

Mesmo que em mil anos,
Mesmo que desumano,
Sei que pretendes o mesmo.
Uma vida desperdiçada,
Uma outra, mesma, calçada,
Pisada, mil vezes pisada,
Que nunca leva a nada.
Que nunca deixa de pedir,
Para ser atravessada.

Vai maldita,
Leva meu isqueiro,
Leva minha seda,
Leva meu segredo,
Eu te espero nesse degredo,
Só me resta te desejar.

Mais um gole,
Mais um dia,
Lenta e perfeita agonia,
Lua cheia de saudade.

Essa é a realidade.

Pouco me resta,
Mas estou vivo.
Irremediavelmente vivo...

Espero o teu sinal.

Nilo Neto

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