quarta-feira, março 26, 2008

Hoje


Superei todas as etapas do percurso tedioso do homem óbvio.

Terei finalmente adquirido a chave do meu cárcere indevido?

Paguei o inominável preço por cristalizar a inconformidade soterrada de tantos?

Não ter constituído família, não ter patrão, não ser consumista, não pagar impostos?

Não fingir que creio nas mentiras do sistema.

Não sorrir quando não acho graça, não comer quando não tenho fome.

Não gozar, se a mulher parecer um iogurte de morango, de tão artificialmente natural?

Tu, meu amigo, vítima costumeira da síndrome do sim,

Porque falas em diálogo,

Se nunca ouves meus tons sutis?


Eu sou

O que não podes instantaneamente consumir.

E despejar teu lixo.

E não pensar.

O incômodo de certa pedra no meio do caminho.

segunda-feira, março 24, 2008

Sintopéia

Cada calo em cem pezinhos.

Cada dor tem seus caminhos.


Eu só não sei te amar.


Encontrei minha pedra

impossível de ultrapassar.


Agora fico aqui procurando sombra.

Até que venha uma cidade me salvar.

terça-feira, março 11, 2008

Samba

(refrão)
Santo aflito, santo aflito,
sai desse muro
e embarca no conflito.

Não quero ser só dialético,
meu dilema é ético
e quem sabe estético.

A utopia anarquista,
cê tá mal das vista,
já foi superada,
olha o conteúdo.

No capitalismo selvagem,
mesmo estando à margem,
ninguém me não dá nada,
mas vende tudo.

Santo aflito, santo aflito,
sai desse muro
e embarca no conflito.

E veio a grana da empresa "Tanto Faz",
pra que olhar pra trás,
vamos para o futuro.

O samba tá mais firme e forte,
pra você dar o norte,
tem que sair do muro.

Solidários na competição,
essa é a intenção,
da nova galera,

Mas se você me ajudar
na cadeia alimentar,
Não vou ser uma fera.

Santo aflito, santo aflito,
sai desse muro
e embarca no conflito.

Santo aflito, santo aflito,
sai desse muro
e embarca no conflito.

Nilo Neto
(video maker e compositor de samba)