terça-feira, abril 06, 2004

I

Nas vezes em que fui menino,
teus olhos não me viram.
Sempre que fiz de conta que te amava,
não acreditaste no meu sonho.

Abri minha caixa mágica
para te dar uma alegria qualquer,
mas tu não sorriste.

Estavas o tempo todo tão séria,
estavas adulta e não brilharam,
para ti, minhas estrelas.

Então eu quis ser como tu
e encarei a vida cheio de responsabilidade
e frases de efeito.
Sorri quando não queria,
fui polido e acessível,
estendi a mão para todos os teus amigos.
Tudo restou inútil.

Hoje estás do outro lado do muro.
Eu te aceno, mas tu não vês minha mão.
Que pena ter sido assim.
Sinto saudade das tuas perguntas tão óbvias, sinto falta da tua moralidade mal disfarçada.
Foram anos loucos aqueles,
mas eu preferi ser o poeta
ao homem de negócios.



II
Tenho azia
e quero beijar teus pulsos.

Cheirar teu sexo,
beijar tuas orelhas.
Vaga nuvem de poeira em meus olhos,
depois vem a chuva.

Vou até onde tu estiveres,
mesmo com este calor infernal.
Sinto teu corpo sobre o meu,
tua alma que procura
o infinito.
Quero a tua boca
na minha,
tua saliva, quero o gosto da tua saliva.

Foges então...



III

Eu tive em minhas mãos
a matéria do sonho,
feita em carne
pela ilusão da felicidade.

Mas passou,
como passa a nuvem pelo céu azul.
E o sol continua a brilhar...

Marco o papel com a tinta,
mas como definir-te,
saber o que levas em ti, de mim ?

Assim como ainda tenho em meus dedos
o infinito prazer
do toque em tua pele,
será que teus poros
estarão cheios da minha energia ?

Uma grande interrogação,
detonando o meu tesão.

IV
Certamente,
tudo está relacionado com as infindáveis possibilidades de um encontro.
Ainda que me assuste a tua energia,
vou por este mundo crendo na tua luz.

Mas o que eu queria era te conhecer
bem devagarinho,
como se bebe um bom vinho.

Então quando eu soubesse de cor
cada possibilidade das tuas curvas,
eu me entregaria total e completamente
à força deste amor.

Porque eu estou cansado
dos segredos deste mundo
e tu certamente estarás sempre
muito além da maioria.

Mesmo que nunca,
mesmo que ainda... valeu.
V
Se tu me falasses da grande melancolia de viver,
mas tu me falas em sonho
e eu não sei o que te dizer,
porque não sei colorir o mundo
com os tons da alegria.

Por isso me calo e fico te olhando.
Ainda que eu saiba do medo
e dos estranhos caminhos do amor,
quando estou contigo
quase esqueço de tudo.
Mas prefiro voltar aos meus poemas
e à minha tristeza.
A solidão mora comigo há tanto tempo...







VI
Caminante
Acalanto,
momento de encanto,
invento.

A luz penetrante,
num breve instante,
contentamento.

Visões,
futuro desconcertante.
Caminhante,
há muitos caminhos.

Sozinhos,
a vida passou
sem levantes.

Tudo como era antes
S.L. 29/10/93

VII

Tudo em ti resplandece.
Os teus gestos se encadeiam,
dando sentido ao teu pensamento,
não ao que tu dizes.
Neste aparente contra-senso,
os segredos se revelam.
E o meu eu, em gozo, ri.

Se me olhas com malícia,
coro e calo.

Se tento falar, erro,
e me recolho ao nada de onde vim,
e de onde nunca deveria ter saído.

Em tua cabeça povoam
milhares de pensamentos.
Uns sutis, outros tão humanos,
mas todos te dão uma aura de sabedoria,
que provém da vida, da arte e do amor.

Tudo em ti resplandece
e eu me admiro de me achar digno
de estar tão próximo de tanta alegria

VIII

Aviso aos navegantes,
tudo como era antes.
Foi tudo miragem, diz o comandante,
não era nada ali adiante.

De repente a colisão:
lá se vai mais uma embarcação.
Assim é quando, desprevenidos,
vagamos pelo mar da emoção.
Tantos acidentes havidos,
nenhuma explicação.

Dizem uns, foi mera desatenção,
um olhar distraído na multidão.
E a nau sem rumo vai direto
chocar-se no mais sólido concreto,
para afundar então.

Nela vai meu coração,
soçobrando, sem salvação.
Vai feliz, o pobre iludido.
acha que tudo faz sentido,
na sua triste condição
de eterno apaixonado.

E eu ? Que fazer,
também morro afogado.

IX

Eu te espero na manhã que nunca vem e o sol nasce pra esmagar meu sentimento.
Enquanto ela brilha lá fora,
dentro de mim é tudo sempre tão escuro.

Quando a tua lembrança faz bater meu coração, é como se o sangue não fosse quente o suficiente para trazer vida à dor.
Não é só decepção, é também desesperança.
Mas tu ainda caminharás muito,
pisando nas flores que pacientemente
espalho pelo caminho.


Se ao menos me fosse dada a divina ciência
de ver os dias futuros
e se afastasse de mim toda a dúvida,
e eu apenas soubesse com a certeza do coração,
que o teu futuro fosse assim, tão brilhante,
tão doce e seguro, tão perfeito e tranqüilo,
que não restasse nada em mim além de paz,
quem sabe eu soubesse te esquecer
e pudesse viver minha própria vida,
parando de precisar me redimir perante o mundo, como se eu fosse o único pecador e tu, a única e autêntica salvadora.
Como pedir o teu perdão se nem mesmo me fizeste nada, além de estar ao meu lado, ouvindo meus queixumes e me amando do teu jeito estranho e louco.
Certamente os filhos que nunca teremos
estão se lamentando dentro de nós,
mas cuidar de outra pessoa é uma coisa tão séria que dá vontade de rir.


E agora mais uma vez tu buscas a dor.
Estás prestes a te enredar novamente
nas malhas graciosas e fatais do sentir
por quem não pode te dar um milionésimo
do amor que tu realmente mereces.

E eu mais uma vez me sinto cansado
como um velho no asilo que já viveu demais
e agoira espera pacientemente e calado pelo fim.
Vou mais uma vez me instalar no meu sofá
e esperar que tu venhas trazer
o teu banquete de decepções,
para que juntos saboreemos.
Até quando serei assim tão passivo ?

X

Um gosto de deserto na boca e uns óculos tão escu-ros que eu nunca mais precisasse ver o sol.
Enterrado na tumba da minha solidão.
Há esses tempos em que melhor seria
estar internado num hospício,
daqueles que usam eletrochoque,
pra deixar que a dor apagasse
qualquer vestígio do amor que eu sinto.

Amor cadela que lambe os pés
de quem o chuta;
Amor de sândalo
que perfuma o machado de quem o corta;
Amor de verme
que vive na escuridão pra fazer viver a terra.

Mas não, o papel de vítima me cai tão bem,
agora outra história vou encenar,
vou ser um cara esperto e sem escrúpulo,
vou afogar minha consciência num copo,
ou no corpo cheiroso de uma mulher bonita e burra, que engula minha falta do que dizer.
XI
Pinguei a gota de veneno no café
e vou bebendo suavemente,
deixando que meu corpo esteja
ainda um pouco mais quente,
pra minha hora de morrer.

A luz se vai apagando, eu sei,
nada estará resolvido,
mas ao menos o silêncio,
a cabeça parando de vomitar perguntas,
sempre mais difíceis, sempre mais fundo;

Chega !!!
A morte é o bálsamo dos desesperados
e hoje eu quero cantar a dor dos imortais.

“Alguma flor que perfumasse mais meu jardim, Qualquer nota que deixasse a música mais pro sim , que pro não de todo dia.
Uma nova luz, que jogada sobre mim,
Fizesse parecer que não tenho tantas rugas assim, Mas eu não saberia compartilhar esta melodia.
Seria egoísta outra vez,
Seria outro.”
S. L. 21/07/93

XII

A trip do destino:
vagar sem rumo,
como náufrago menino
no mar do mundo.

Avistar então a ilha,
após meses de solidão.
Será ela miragem,
será filha do desespero e da ilusão ?

Penso nisso enquanto te vejo chegar,
no mesmo bar,
bebendo quieto.

Teus movimentos entre as mesas,
fazem-me imaginar,
que és uma bailarina
e que danças só pra mim.

Serás tu a minha ilha,
ou lá vai mais um gole
pra esquecer a solidão ?

Nada mais um pouco, meu coração !!!

XIII

Eu queria encontrar palavras
que se adequassem perfeitamente a ti,
como um colar de pedras preciosas
que adornasse o teu pescoço.
Mas me fogem, aves vadias.
É o preço por te querer tanto
e à tua pele branca e macia.

A visão desse sonho,
que é beijar esse teu corpo todo
e trazer o teu perfume em mim,
tem o dom de me fazer fechar os olhos
e acordar num paraíso distante.

Mas tu me encantas e desapareces
como o coelho na cartola
e o aplauso do meu coração
afasta o medo,
mas não diminui a dor de achar impossível
o que talvez seja só delírio.

Eu queria encontrar palavras
mas só o silêncio traduz ,
o que é adorar-te como uma deusa da mitologia
dos livros sagrados do meu,
agora teu, coração.

S. L. 10/12/94


XIV

Caíram as lágrimas
de um santo,
numa capela branca, perdida
no meio de um bosque frio,
quando eu te perdi.

Porque moravam em mim
o medo, a dor e a solidão
e eu não sabia.

XV

Como falar-te de amor?
Como se sussurrasse nos teus ouvidos?
Como um longo beijo apaixonado?
Como uma oração silenciosa?

A vida te pôs aí, com estes olhos
cheios da genuína alegria,
este sorriso com a cor
das pérolas perdidas no oceano,
com tudo o que me permite
sonhar nos braços da poesia.

Agora eu te peço, não tenhas medo,
já tu és uma dádiva inestimável,
és como um segredo muito especial
e tu não precisas nada fazer,
senão deixar-te levar
pelo suave som das palavras de amor.

S. L. 31/10/94

XVI

Porque medir as palavras
se o que sinto é tão grande?

Eu te amo, eu te amo, eu te amo, Margarita
Rita dos meus sonhos,
Rita que saltita,
Flor mais que perfeita.

Assim que meu corpo acordar,
eu sei que minha mente estará ocupada
com a suave brisa do teu falar,
com os segredos da tua alma encantada.

Mas se me negas os beijos,
único alimento do meu amor carnal,
tudo parece tão cinza, não tem jeito,
meu dia fica estragado até o fim.

Porque, Rita, não voas e pousas,
no meu ombro firme?
Será que minhas virtudes são poucas,
para entreter teus olhos atentos?
Será que negas a ti mesma
a chance de ser feliz comigo,
por alguma culpa antiga?

Pois eu te digo:
Estás liberta do cativeiro,
pelo meu grande abraço amoroso.
E o teu sorriso mentiroso
não esconde a outra dor.
Nem precisaria.
É líquido e cristalino,
como a pura água do riacho,
que em teus pensamentos ainda existem
pequenos cacos do amor que se quebrou.
Eu não te peço que o esqueças!

Quero apenas ser o outro dia,
o dia seguinte, onde
flores nascem das pedras,
como as doces margaritas.
Quero ser o teu Jardim Secreto,
o teu renascer das cinzas,
a fênix do grande amor vivido.

Sei que posso, sei que quero,
te dar mais alguns dias
de felicidade neste mundo.

É pedir demais então,
que mergulhes neste sentimento,
como no dia quente
em que o mar refrescou teu corpo?
Não, Rita, não é.

“Deixa de ser boba e vem comigo,
Existe um mundo novo e quero te mostrar,
que não se aprende em nenhum livro,
basta ter coragem pra se libertar,
viver e amar...”

Por tudo isso,
quero o teu beijo
e todas as delícia que o teu corpo
pode proporcionar.

S.L. 23/3/95



XVII

Vínculos fanáticos de desejos incontroláveis,
Pele rasgada, alma fendida,
Meu falo de aço abrindo a ferida.

XVIII

Fumaça de cigarro
subindo pelo poço de luz,
sinal índio,
reclamando a tua presença.

Ela deve estar dormindo.
A noite foi longa,
sons e luzes,
dança e prazer,
entre os cigarros dos outros,
goles amargos que fazem esquecer.

Acorda, meu amor, acorda,
deixa a tua cama e vem me ver,
não agüento um dia cinza,
sem a cor dos teus olhos.


Fumaça subindo pelo poço de luz,
e a mente vai com ela,
até os braços da minha amada.

S. L. 24-3-95

XIX


Eu rasguei meus olhos
pra não ter que ver
seu lado mais escuro.

Irmã do mal,
adeus.

Não sei o que esperar da vida,
mas sei o que me faz infeliz.
Por isso não me venha
com as doces palavras da ilusão.

Só estou aqui sentado,
esperando a vida passar.

Irmã do mal,
adeus.

Você sabe que está caindo
no abismo da solidão,
mas se o seu salvador
sumiu na hora H,
esqueça que me conheceu.

Irmã do mal,
adeus.
.................................

Agora que tudo clareou,
que a chuva já passou,
fiquei aqui pensando,
quanto ainda estarei,
enganando a mim mesmo,
por que se a felicidade existe,
ela não rima com teu nome.

Você busca chamar a atenção,
de uma forma rude e tola,
porque se é certo que te amei,
já sei como te esquecer.

Irmã do mal,
tudo o que so-nhei,
e você insistiu em quebrar,
vai ficar espalhado,
nos dias azuis do passado.

Fui teu, irmã,
hoje não sou de ninguém.

Laguna, verão 95

XX

Sei lá, milhões de vezes sei lá,
porque se sentido não há,
muito sentimento desceu pela descarga.

Some o sol, vem a lua,
some a dor, vou pra rua,
pescar estrela, beijar cigarro.

Tiro um sarro
da tua falsa solidão,
doce ilusão,
descendo pelo vaso.

Arraso,
mas não sinto pena.
Não sorrias, pequena,
tudo foi em vão.

Desperdício de sorriso.
Cabe dor neste coração?
Acho que não te preciso.

Mais, quero mais,
como o mar sob o cais,
tento derrubar a base.

Quem sabe a gente se case,
quem sabe não.
Depois vem a separação.
Os filhos na casa da mãe.

Minha vida não vale nada
e vai descendo pela privada.

Vida inútil, tudo some,
essa febre me consome
e não tem remédio.

Te amar, ah que tédio!
Quero é sofrer
pra depois te esquecer.

S.L, 2-4-95

XXI

Eu cuspo na tua boca
e tenho consciência do desperdício.
Teu lugar é no hospício
pra humilhar as loucas.

Dou um talho no teu peito,
jogo sal na ferida.
Mas não tem jeito,
pra ti não tem saída.

Não pensa, que fede,
enche a boca de tequila.
Tua maldade não se mede,
teu veneno não destila.

Se pensas que estou só,
te enganas redondamente.
Não preciso da tua dó,
longe de ti estou contente.

A vida não tem graça
sem um pouco de amargura.
Hoje é o dia da caça,
hoje eu encontrei a cura.


S.L, 2-4-95,


XXII


Se eu te beijo a boca
antecipo o carnaval
e saio por aí vestido de arlequim,
palhaço ou pirata.
Faço no céu uma chuva de prata
e tanto barulho que acordo a cidade.

Seria a máxima felicidade,
encontro de uma nave louca
que chega a um destino maior,
se eu te beijo a boca,
ah, nem sei,
acho que nunca mais passo água,
vai se embora toda a mágoa
e fica só o mais bonito,
aquilo que eu acredito,
um beijo da mulher amada.

Lg 18/1/95

XXIII


Existe este mar imenso,
verde escuro,
refletindo as pesadas nuvens,
cinzentas, cor de chuva.

Há também um vento frio,
lembrando a distância dos trópicos.

Aí toca um blues tão triste,
tão bonito
e eu fico aqui saboreando a saudade.

Sei que a tua cidade não te deixa sonhar,
os prédios afastam a ilusão
e esmagam com a verdade do mundo.

Sei de tudo isso.
Só não sei como te consolar,
só não sei como te fazer sorrir.

Estar aqui contigo já seria um bom começo.

Lg. 13/2/95

XXIV

Lá longe, onde as multidões não alcançam,
está um coração atormentado,
mutilado por uma dor,
insuportável e inevitável.

Que diabos ele fez,
para estar assim,
roto e esfarrapado,
resto do resto,
fio do trapo mais sujo ?

Quem não teve consideração,
quem o deixou pelo caminho,
quem não soube ser compreensiva?

Mas ele não está consciente,
o pobre coração está morrendo.
Livra-o da dor do fim,
a mão de quem o criou.
Está entorpecido pelo álcool,
pelas outras drogas, pela dor.

Não vê, não ouve,
não sente pena de si mesmo.
Só quer mesmo morrer, dormir.

Adeus amor, eu vou partir,
tudo está acabado,
nada mais faz sentido.

Adeus coração, adeus.

XXV

Vejo a brasa do cigarro,
que fumo,
na escuridão do quarto
e deixo minha mente vagar...

Em que curva meu coração se perdeu?
Que olhar, que perfume,
fez dele um tolo, que perdeu o rumo
e capotou.

E agora coração ?
Viver sem ela?
Insistir sem a menor dose de segurança?

Não, já foi.
E começar tudo de novo.

SL 9-4-95



XXVI

Eu me acordo
como o desprezo de um passo em falso.

Dança, movimento do corpo,
força que, impulsionada pelo sensual,
faz a alma falar em silêncio.

São pássaros, são ventos,
que as tuas mãos em movimentos
fendem no ar parado.

Quando a arte imita a vida,
tudo passa a ter outro sentido.
Sinto-me comovido,
sorrio aprovando tudo.






XXVII

A minha voz anda rouca do cigarro,
meus olhos fundos da falta do sol,
só a noite e a tua voz.
Vivo alimentado por uma ilusão.

Quem sois vós, irmã querida?
A que lugar me levas,
carregando-me pela mão?
Três minutos de silêncio pela noite que morre.
Te levo até em casa e vou dormir sozinho,
outra vez e outra vez.

Se faz sentido?
Não sei, gosto da minha vida.

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