terça-feira, abril 06, 2004

Bukowksi

O que os escritores fazem quando não estão escrevendo? Eu vou ao hipódromo. Nos meus primeiros tempos, ou passava fome ou trabalhava em empregos de revirar o estômago.
Agora, me mantenho afastado dos escritores — ou das pessoas que se dizem escritores. Mas entre 1970 e 1974, quando decidi ficar em um lugar e escrever ou morrer, os escritores vinham aqui, todos poetas. POETAS. E descobri uma coisa curiosa: nenhum deles tinha qualquer meio visível de sustento. Ou, se faziam leituras de poesias, poucos assistiam, digamos de quatro a 14 outros POETAS. Mas todos viviam em apartamentos razoavelmente bons e pareciam ter tempo de sobra para sentar no meu sofá e beber minha cerveja. Adquiri fama na cidade de ser o maluco, de fazer festas onde coisas inomináveis aconteciam e mulheres doidas dançavam e quebravam as coisas, ou que eu expulsava as pessoas da minha casa, ou que havia batidas policiais ou etc. e etc. Muito disso era verdade. Mas eu também tinha que escrever para meu editor e para as revistas para conseguir dinheiro para o aluguel e o trago, e isto significava escrever prosa. Mas esses... poetas... só escreviam poesia... eu achava que eram superficiais e pretensiosas... mas eles continuavam com ela, vestiam-se razoavelmente bem, pareciam bem-alimentados, e tinham todo esse tempo pra sentar no sofá e tempo pra conversar — sobre sua poesia e sobre si mesmos. Muitas vezes, eu perguntava: “Escute, como você se sustenta?”. Eles só ficavam sentados, sorriam para mim, bebiam minha cerveja e esperavam que alguma
das minhas doidas mulheres aparecesse, na esperança de que, de alguma forma, conseguissem um pouco de sexo, admiração, aventura ou seja lá o que for.
Estava ficando claro para mim que eu teria que me livrar desses bajuladores molengas. E, gradualmente descobri seu segredo, um a um. Na maioria das vezes, nos bastidores, bem escondida, estava a mãe. A mãe tomava conta destes gênios, pagava o aluguel, a comida e as roupas.
Lembro uma vez, numa rara saída de casa, eu estava sentado no apartamento desse POETA. Estava um saco, nada para beber. Ele ficou falando que era uma injustiça ele não ter maior reconhecimento. Os editores, todos conspiravam contra ele. Apontou o dedo para mim: “Você também, você disse pra Martin não me publicar!” Não era verdade. Daí, ele começou a reclamar e a se queixar sobre outras coisas. Então, tocou o telefone. Ele atendeu e começou a falar bem baixinho e reservadan’ente. Desligou e virou-se para mim.
“É a minha mãe, ela está vindo pra cá. Você tem que ir embora.”
“Tudo bem, gostaria de conhecer a sua mãe.”
“Não! Não! Ela é horrível! Você tem que ir embora! Agora! Rápido!”
Tomei o elevador e saí. E risquei-o de meu caderno.
Havia um outro. A mãe pagava para ele a comida, o cano, o seguro, o aluguel e ak mesmo escrevia parte dos seus poemas. Inacreditável, E isso aconteceu durante décadas.

Nenhum comentário: