quinta-feira, outubro 25, 2007

Avança a vítima no tranco.
Procura seu reflexo no barranco.
De repente, ouve-se o estampido.
E mais nenhum outro ruído.

Nada mais se interpõe à vedade.
Nem governo, nem a caridade.
Só a crueza da falta de escolha.
Nem raiz, nem galhos, só folha.

E tudo isso já está escrito.
E fica o dito, pelo não dito.
Finda a alma e o corpo, no morro.
Jamais houve qualquer tipo de socorro.

Eu, poeta do céu azul,
Falo pelas almas no vento sul.
Agora calo, sem solução,
respondo pelo fim dessa canção.

E ponto final.

Um comentário:

Anônimo disse...

Reinvenção


A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles