terça-feira, outubro 02, 2007

Eu queria que o amor fosse
uma tempestade de absurdos doces.
Mas é uma faca apontada para o sim.
Ele é o desencontro das mães solitárias,
saudosas do choro de seus bebês,
enquanto a chaleira ferve, de tarde,
nas casas vazias, ensolaradas, nos subúrbios
de uma cidade qualquer da Guatemala.

Ele é o segredo escondido
nas informações incompreensíveis,
das embalagens de cereais matinais.
Ele é o gemido discreto,
no sentar e levantar,
dos bancos de praças,
dos velhos e suas cabeças brancas.

O amor são os aparelhos de ar condicionado,
nas repartições públicas,
onde decisões que afetam a vida de tantos,
que não são ouvidos,
explodem todos os dias.
É o dedo no gatilho dos meninos traficantes,
que não dispara e somente hoje,
é substituído pela linha das pipas,
no céu azul, dessa ilha cheia de vento.

O amor é tua boca aberta,
quase riso, quando gozas.
É a revoada de pássaros no horizonte,
42 segundos antes do sol nascer.
É o suicídio que não deu certo,
no meu amigo que matou o pai e a mãe.

O amor é o filho que não tive contigo,
amor da vida inteira.

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