domingo, novembro 04, 2007

carta ao meu filho não nascido

não pude te dar um mundo,
que não me quis, não me viu.
fui amargo, egoísta, sensível demais.

sinto falta do teu sorriso,
que nunca ouvirei.
esse vazio que ninguém preenche,
vou saturando com as lágrimas
que não choro mais.

querido filho.

te deixo um punhado de palavras.
testemunhas de um caminho seco.
sem sucesso, sem felicidade, sem paz.

apenas a boquiaberta perplexidade
dos loucos solitários,
desistidos, suicidados.

mas não peço teu perdão,
só o silêncio cheio de ecos,
das muitas gerações que não virão.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo - para que possas profundamente respirar.Quem faz um poema salva um afogado."

Mário Quintana