quarta-feira, junho 06, 2012


acorda flor de espanha,
acorda malaguenha
e vem depositar teu sorriso
de menina mulher
no beiral da minha janela triste.

vem fecundar essa terra árida,
com o calor das tuas
coxas bailarinas.
vem como um siroco louco
levantar toda a dor,
do meu peito de poeta menor.

vem que eu sei de cor,
todos os versos,
madrigais e sonetos.
vem que te prometo um ninho,
cheio de silencioso carinho.

traz no teu colo o velho vinho,
das terras dos teus antepassados.
lentamente olvidemos os percalços,
traz o pão, o azeite
e as ervas de raro sabor.

com teu caminhar,
vai reconstruindo teus sonhos
de menina moça,
da donzela de quixote.

e aqui vai meu último mote:
enquanto houver
esperança e vida,
estarei te esperando,
alma querida.

até o desenlace final
desse vaso decadente,
até que o passado,
futuro e presente,
fundam-se  num último
sacrifício ao deus baco.

evoé sacerdotisa,
que em meu cálice
se eterniza.

desperta, flor de espanha,
desperta, meu único amor.
tens já, aqui, tua missão,
apascentar meu coração.
e tudo mais
nos será concedido.

abriremos com sorrisos
templários, os vários
portais dos jardins
do paraíso perdido.
finalmente reconstruídos,
nas douradas células
de nossas vestes finais.

livres de todos os pecados originais,
até que não haja nunca mais,
choro e ranger de dentes,
nesses vales obscuros.

luzes somente,
em nosso bailar astral,
amantes, amores,
amigos e confidentes,
parando o tempo
nessa fenda dimensional,
chamada pelos bem aventurados
simplesmente de vida.

até que a fênix pouse tranquila nas chamas
e faça de cada amanhecer
um completo recomeçar,
assim prometo te amar,
flor de espanha,
malaguenha, cigana,
judia, bérbere,

mulher brasileira,
de mistura tamanha,
vencedora da luta ferrenha,
dos meus ais,
da minha guerra secreta,
feita de consoantes e vogais.

a teus deuses rogais, toda noite,
lâmpada mágica em punho,
a pisar como vestal,
 sem deixar vestígios,
nas velhas tábuas rangentes
do meu abrigo.

trago marcado a fogo,
meu cantar antigo,
vem tu me despertar,
que agora te soa conhecido,
que aquele que te fez,
perdeu a receita,
és a menina mulher perfeita.

e nada mais posso te dizer,
senão do meu infinito querer.
até que completo, entregue
o óbolo ao barqueiro final.

acorda de uma vez,
flor de espanha
e com tua alquimia,
transforma meu pranto
em interminável carnaval.

nilo neto
desterro 5/6/12





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