segunda-feira, dezembro 24, 2007

Como não te amar

Se tu alias
em perfeita sincronia,
palavras e gestos,
No momento mais crítico
da contradança da desilusão.

Causando uma revoada
de serafins no meu peito.

Calculando,
como numa ponte,
os nós que ainda sustentam
meu frágil não ser.

Debochando da minha clausura
e de todos os outros votos tristes,
para no fim receber
minha fantasia delirante,

Com o aplauso imenso,
das duas mãos,
que quero no ato final
entre as minhas.

Será o dia da perfeição sem nome do caminho.

O filme pornô bizarro,
estrelado e dirigido
por loucos.
Sucesso mundial
De crítica e público.

Sexo bissexto,
saturado de solidão,
gritando por um mundo
sem barras de ferro
ou palavras que roubem
a já raquítica esperança.

Rasgo do novo possível,
no céu sem nuvens
da razão amarga,
que não consegue ver além
das leis que ela mesma cria.

Assim somos,
Amiga alada,
E a semente que carregamos
com tanta dor e prazer,

Será a vida
Em luminosa renovação,
Nos jardins da compreensão
Dos filhos que nunca teremos.

14 comentários:

Gabriela Galvão disse...

Essa ñ soh emocionou como fez pensar


Abraço!

Anônimo disse...

tua humildade é o que te faz grande, misturas doses exatas de Deus e nada.saciando minha sede...

Anônimo disse...

"...O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa".
Alberto Caeiro

Anônimo disse...

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
(Clarice Lispector).

Anônimo disse...

"Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério.

A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério."
(Lya Luft)

Anônimo disse...

"Não é à toa que entendo os que buscam caminho.
Como busquei arduamente o meu!
E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser,
o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho.
Eu que tinha querido o Caminho, com letra maiúscula,
hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo.
Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores,
o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei.
Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, são os outros.
Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei:
eis o meu porto de chegada". Clarice Lispector

Anônimo disse...

A perfeição


O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.


O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.


Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.


O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.


Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Clarice Lispector

Anônimo disse...

Lya Luft



Tão sutilmente em tantos breves anos



do livro Mulher no Palco
Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
o pó de um cotidiano desencanto.


Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca.

Anônimo disse...

"Nós não existe, mas é composto por Eu e Tu; é uma fronteira sempre móvel onde duas pessoas se encontram.E quando há encontro, eu me transformo e você também se transforma."
Fritz Perls, 1969

Anônimo disse...

"Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo."
Caio Fernando Abreu

Anônimo disse...

"Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão."
Jean-Paul Sartre

Anônimo disse...

"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos,
coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.
De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura,
e para que eu nascera sem nojo da dor.
Para que te servem essas unhas longas?
Para te arranhar de morte
e para arrancar os teus espinhos mortais,
responde o lobo do homem.
Para que te serve essa cruel boca de fome?
Para te morder e para soprar a fim
de que eu não te doa demais, meu amor,
já que tenho que te doer,
eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.
Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?
Para ficarmos de mãos dadas,
pois preciso tanto, tanto, tanto -
uivaram os lobos e olharam intimidados
as próprias garras antes de se aconchegarem
um no outro para amar e dormir. "

Clarice Lispector

Anônimo disse...

"Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve,
para que venhas comigo e eu para sempre te leve..."

Cecília Meireles

Anônimo disse...

"E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."

Caio Fernando Abreu