terça-feira, julho 19, 2005


Alguns deles me dizem que vai passar.

Outros me garantiram que vou levar tudo isso vida afora, mas que com o tempo acostuma.

Eu sei cada vez mais, que ela sempre foi o meu melhor público.

A risada e o choro me empurravam além, um pouco mais criativo, um minuto mais de experiência.

Mas ela se foi e agora carrega o filho dele.

E a vida ficou insuportável a maior parte do tempo.

Nas noites frias do inverno aqui no sul, então, uh lalá.

Pra não viver o tempo todo chorando e me lamentando,

Pra não ser ainda mais chato do que costumo ser,

Invento maneiras de fingir que vale a pena continuar vivo.

Chamo isso de auto-ilusão.

A que mais me acalenta na hora do desespero, amada,

É sonhar que um dia a gente ainda vai ficar junto.

Que a tua escolha em ficar com ele, não foi bem uma escolha,

Mas uma espécie de pressão que o mundo fez.

E naquele momento te pareceu a que menos te faria sentir dor.

Mas lentamente teu olhos se abrirão (esse é a minha auto-ilusão preferida)

E tu descobrirás que ficar ao meu lado é a única forma de felicidade autêntica,

Nesse planetinha azul, nem que seja quando tu estiveres velhinha,

Com teus cabelos brancos e cercada dos netos que tu tanto sonhas.

De mãos dadas comigo, olhando o dia terminar, chorando de felicidade, em silêncio,

Achando que viver valeu a pena.

Nilo Neto

Floripa, 19 de julho de 2005