sexta-feira, dezembro 17, 2004

O que é feito de mim sem as tuas mãos,

É que o meu aleijão fica mais saliente.

Meus olhos menos transparentes,

Vida sem água de beber.



O que é feito de mim sem as tuas mãos,

É que meu mundo fica muito maior que meus sapatos

E me aperta ao respirar. Como se o sol morresse

E todas as dúvidas fossem enxurradas de verão.



O que é feito de mim sem as tuas mãos,

É que segredo nenhum apaga a dor

E os passarinhos todos perdessem os galhos;

E eu fosse mais um andarilho sem estrada.



O que é feito de mim sem as tuas mãos,

É que meu corpo já não se reconhece mais

E a casa toda fosse um leprosário ou hospício,

Onde a liberdade estivesse perdida pra sempre.



Sem tuas mãos perco toda a possibilidade do equilíbrio

Nessa corda bamba que é a vida.

Rede de segurança? Nem sei se existe.

Caio sem parar num choro sem lágrimas, nem fim.



Por favor mãos amadas, perdoem este poeta,

E voltem a gravitar no meu infinito,

Sem teu calor, nada faz muito sentido,

Sem tua força, prefiro fenecer sem destino.
É de um teor tão violento
O tipo de dor que ora me transforma,
Que passa a fazer sentido,
A existência de muitos seres,
Antes incompreendidos por este
Poeta menor.

Eu peço aos deuses da vida
Que não me abandonem
Nessa escuridão,
Mas que, percebendo
Minha agonia,
Que ainda me parece descabida,
Enviem-me um sinal claro,
Da indestrutibilidade de meu coração,
Eterno navegante de mares tempestuosos,
Mas que nesse momento,
Frágil casca de noz no oceano imenso,
Sinto a soçobrar,
Num naufrágio inevitável,
Ante as forças que o desmantelam
Lentamente.

Eu digo, tende piedade de mim amada.
Não busca apenas o que te deixa seca.
Lembra dos dias de arco-íris.
Não pretendo ser o sem culpa, nem o carrasco.
Apenas desejo compreender essa dor
Como o começo de outra felicidade.
De tudo isso sobraremos em arte,
Nunca somente as lentas lágrimas
Que aquecem nossos rostos inocentes.

Eu até posso tentar compreender
Que o teu conceito de felicidade a dois,
Passe pela noção de fidelidade.
Mas também precisas compreender
Que no meu mundo, nada disso é o principal,
Mas a terna compreensão e o perdão,
Regado a muito sonho realizado.

Hoje, mais do que nunca,
Compreendo o velho safado (Bukowski),
Quando dizia que o que o livrava
Da loucura e da morte,
Era a luta com as palavras,
Executada todos os dias,
Depois de longa jornada cumprida.
A mim também resta a poesia,
Depois de todas as grandes dores,
Sejam elas permitidas ou rebeldes.
Salve, grande senhora,
Pousada no ombro dos homens
Que carregam uma dor sem nome.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Então tá certo, criança
Acabou nossa canção.
Morreu vítima de vingança,
Que encheu logo sua pança,
Com os ossos desse amor

Agora vem logo juntar
os cacos emocionais
que deixaste pela casa.
Tuas histórias tristes
De menina abandonada.
Teus segredos brutos,
Que te fazem ferir,
Por medo de ser ferida.

Perdoa esses lamentos.
Foram dias tão intensos,
Mil aventuras e testes.
Deixaste esse homem,
Um pouco mais descrente.
E bem mais ligado.
Minha próxima vítima
Não saberá da tua passagem,
Nem daquilo que faço.

Perdoa minha raiva,
Fiz o que pude por nós.
Se não nos bastou,
Esse desejo,
Fica aqui meu legado.
Leva três quilos de abraços e
Uma pitada de beijos.
Seja feliz com quem quiser.