Hoje
Superei todas as etapas do percurso tedioso do homem óbvio.
Terei finalmente adquirido a chave do meu cárcere indevido?
Paguei o inominável preço por cristalizar a inconformidade soterrada de tantos?
Não ter constituído família, não ter patrão, não ser consumista, não pagar impostos?
Não fingir que creio nas mentiras do sistema.
Não sorrir quando não acho graça, não comer quando não tenho fome.
Não gozar, se a mulher parecer um iogurte de morango, de tão artificialmente natural?
Tu, meu amigo, vítima costumeira da síndrome do sim,
Porque falas em diálogo,
Se nunca ouves meus tons sutis?
Eu sou
O que não podes instantaneamente consumir.
E despejar teu lixo.
E não pensar.
O incômodo de certa pedra no meio do caminho.