terça-feira, fevereiro 26, 2008

Socorro

Estou sendo engolido
pelo poço de ódio.
A loucura!
A necessidade de ver
o sangue escorrer.

A sombra do empalador
está me tomando.
A raiva intestina.

O guerreiro furioso
que eu sou,
hoje despertou,
com imprecações
e danações eternas,
em seus lábios de gelo.

Chegou a hora da vingança!
Chegou a hora do sacrifício!

Tremei seres malditos,
que ousaram me importunar
com seus pequenos
infernos particulares

Dante não descreveria
a terrível cena
que breve se imporá,
ante o olhar fascinado
do monstro que existe em mim.

Sun Tzu, Maquiavel,
abençoem minha caminhada.

Amém.

sábado, fevereiro 23, 2008

minha língua de fogo
arrasta teu coração míope
pra beira do rio
e te faz lamber a sombra
das árvores menores
e as mais azuladas

minha língua de gato
e tem mais

toda terça sem sol,
às 9:22 da manhã
eu acendo uma vela
no meu pensamento
pra resgatar minha saudade
dar banhinho nela,
vestir uma roupa
e levar pra passear na praia.

é que eu sou um cara
essencialmente fofo, entende?

eu sou poeta.
gosto de dar nomes
pra coisas estranhas e invisíveis.
língua de trapo, língua ferina.
língua de feriado.

embrulha pra mim, por favor?
mas corta bem fininho, tá?
nossa, mas a senhora está muito bem Dona ...
e como vai o Seu ...
minhas condolências
mas ele era tão novo
quantos netos?
deus te abençoe minha filha
e te conserve sempre assim

tudo está girando pelo azul
eu sigo sonhando com teu blues
e nem mesmo fosse uma toada
branco sonho leve na calçada

meu ofício é ingrato iglu
vivo aos tombos se olho pra dentro
se te vejo e ouço, um dia perto
certo, vou gozar a vida sul.
flauta de pã
dionísio
todos os panteras negras
os mulheres negras
las madres de la plaza de mayo
os casamentos inter-raciais, interplanetários
aquele som do bauhaus nas madrugadas frias da ilha
qualquer primeiro beijo que não bata os dentes
tortinha de maçã daquela lanchonete famosa
(ih, agora me entreguei)
o vôo das gaivotas no mar quando amanhece
fechar um com uma folha do código penal
É com essa lata de spray
marca paracelso
que eu insisto em usar
nos muros da cidade moribunda
minha poesia alquímica
mandragorina, lajotas de letras
em cores opacas

oblíquos olhares
tentam decifrar
minha alentada fórmula
do elixir da vida
mas suas cabeças tortas,
suas vidas astutas,
não percebem nunca.

mais um falatório
rumo ao inútil,
tão sutil
não sentido da vista.
muro feito de mim
e minhas cicatrizes.

sábado, fevereiro 16, 2008

minha vida
é uma casca de ferida
que eu insisto
em cutucar.

a tua,
não tem saída,
mesmo se fosses a preferida
do sultão de kandaar

ardida
urdida
nos estranhos tecidos
do verbo amar.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

ando seco.
a pena esturricou.

o coração fechado
pra balanço
do barco.

um caco
de telha
sem uso.

intruso,
em meu próprio
castelo de espelhos.

todos os que percebo,
todas as sombras e a base,
são mesmo o fim da escada.

e não me peçam mais nada.
eternos espinhos cravados.
metáforas gastas e pobres.

deixem-me torrar os cobres,
nos sons da poesia alheia.
nessa gente feita de areia.

tudo emancipado e nu.
tudo acidente, sem conexão.
até que chova em meu coração.