sexta-feira, outubro 26, 2007

Os melhores poemas
foram os que perdi,
Nos cafundós da memória.

Distraído,
atravessando a rua.

Ou entre um gole
e a demoradíssima
caneta do garçom.

Não me abandona, logo agora,
Que descobriste o homem,
Escondido atrás do poeta.

Nem tudo é solicitude e riso.
Profundidade e siso.

Há sempre
uma nova vasilha
pra encher,

Com os pingos da chuva que,
goteira,
Não caberiam em outro lugar.

Ama-me ou escassa-me.
Seria esquece-me?

quinta-feira, outubro 25, 2007

Avança a vítima no tranco.
Procura seu reflexo no barranco.
De repente, ouve-se o estampido.
E mais nenhum outro ruído.

Nada mais se interpõe à vedade.
Nem governo, nem a caridade.
Só a crueza da falta de escolha.
Nem raiz, nem galhos, só folha.

E tudo isso já está escrito.
E fica o dito, pelo não dito.
Finda a alma e o corpo, no morro.
Jamais houve qualquer tipo de socorro.

Eu, poeta do céu azul,
Falo pelas almas no vento sul.
Agora calo, sem solução,
respondo pelo fim dessa canção.

E ponto final.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Não preciso de perdão.
Não preciso de resistência.

Um milhão de palavras mortas,
giram ao meu redor a cada segundo.

Nada são,
diante da lógica,
da dialética,
de um pensamento taoísta perfeito.

Então, só quando cessam as palavras;
Na exaustão dos corpos respirando livres,
É que a minha não-resposta pode acontecer.

É quando eu morro,
sonhando em acordar no teus braços.
Para uma certa burguesa filha da puta:

As doces lembranças das manhãs no lago

Um dia, um imbecilzinho de merda,
Do alto de seu castelo de sombras,
Desejando poder e dinheiro,
Inventou a normalidade.

E sentia prazer e satisfação
Em explorar as estranhezas legítimas
das outras pessoas.

Assim foi também que outros imbecis do mesmo quilate,
Inventaram: a beleza, a verdade, a justiça e deus.
Como se isso pudesse existir além da subjetividade,
Da experiência única e intransferível, de cada um.

E se intitularam porta vozes dessas idéias.
Sempre desejando o mesmo prazer egoísta.

Assim destruíram o planeta.
E foderam com a paciência de muitos.
Palmas para eles, que eles merecem.

sábado, outubro 13, 2007

A pequena arte de complicar as coisas

As partes negras da tua alma,
Gritam,
Que o amor é um poço seco.

O teu medo da solidão
Tentou me engolir.

Mas o vento da noite
Me trouxe de volta
Pra minha.

Agora vou boiar
Na minha rotina.

Até que a ilusão,
Me faça jogar a linha.

Ou finalmente eu morra,
Vítima de egoísmo crônico.

domingo, outubro 07, 2007

Não é verde,
o meu acordo é feito de tons irreais.
O desejo tem luz e sombra.
Viver é apostar no cavalo errado.
Um punhado de frases desconexas.
Um milhão de beijos
não curam um corte no coração.
E por favor, desiste da idéia de família.
Foi o que te arrebentou.
Não queira arrebentar mais ninguém.
Loucos sinceros não reproduzem
padrões de tristeza.
São humanas as respostas.
Imperfeitas.
Adoro teu sorriso.
Tua luz me faz possível.
Eu vibro com teu calor.

terça-feira, outubro 02, 2007

Eu queria que o amor fosse
uma tempestade de absurdos doces.
Mas é uma faca apontada para o sim.
Ele é o desencontro das mães solitárias,
saudosas do choro de seus bebês,
enquanto a chaleira ferve, de tarde,
nas casas vazias, ensolaradas, nos subúrbios
de uma cidade qualquer da Guatemala.

Ele é o segredo escondido
nas informações incompreensíveis,
das embalagens de cereais matinais.
Ele é o gemido discreto,
no sentar e levantar,
dos bancos de praças,
dos velhos e suas cabeças brancas.

O amor são os aparelhos de ar condicionado,
nas repartições públicas,
onde decisões que afetam a vida de tantos,
que não são ouvidos,
explodem todos os dias.
É o dedo no gatilho dos meninos traficantes,
que não dispara e somente hoje,
é substituído pela linha das pipas,
no céu azul, dessa ilha cheia de vento.

O amor é tua boca aberta,
quase riso, quando gozas.
É a revoada de pássaros no horizonte,
42 segundos antes do sol nascer.
É o suicídio que não deu certo,
no meu amigo que matou o pai e a mãe.

O amor é o filho que não tive contigo,
amor da vida inteira.